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Foto do escritorRicardo Vieira

O que envolve a sexualidade

Atualizado: 21 de jan. de 2022

Tempo de leitura: 9 minutos

O conceito de sexualidade, assim como a definição de saúde sexual e saúde mental, apresentados pela Organização Mundial da Saúde – OMS, permite entender a sexualidade como um aspecto inerente ao ser humano, que se rege num complexo contexto biopsicossocial e a perceber a saúde sexual como sendo um estado de bem-estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade.


Do ponto de vista da terapia sexual quando, de alguma forma, a cadeia de reações biopsicossociais está desestruturada em qualquer de seus elos: biológico, psicológico ou social, acarreta um processo disfuncional que compromete a saúde sexual e o desenvolvimento saudável da sexualidade.


Ao considerarmos, conceitualmente o pressuposto de que a sexualidade humana é energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, temos que as disfunções e inadequações sexuais não só deterioram a saúde sexual levando ao sofrimento pessoal, como também afetam significativamente o relacionamento e a intimidade do casal.


Este, porém, é um caminho de mão dupla uma vez que relacionamentos conflituosos também contribuem para o desencadeamento de disfunções e inadequações sexuais e, portanto, devem igualmente serem consideradas no planejamento terapêutico com o casal.

Este artigo contém:


O que é sexualidade humana? Saúde sexual Saúde menta e física Uma mensagem para levar para casa

 

O que é sexualidade humana?


O entendimento da saúde sexual não era possível sem o respectivo e amplo entendimento da sexualidade humana (Weston, 2004, tradução nossa). Dessa forma temos a seguinte definição de sexualidade, que corresponde ao resultado da compilação dos conceitos apresentados pela OMS (1975) e Langfeldt, T. E Porter, M. 1986 apud Weston M. Edwards, M.A., Eli Coleman, 2004, p.290-291).


“A sexualidade humana forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. A sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não de orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso. É energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como estas tocam e são tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e integrações e, portanto, a saúde mental e física.


Se saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada como direito humano básico. A saúde mental é a integração dos aspectos sociais, somáticos, intelectuais e emocionais de maneira tal que influenciem positivamente a personalidade, a capacidade de comunicação com outras pessoas e o amor”.


O amplo entendimento sobre a sexualidade é frequentemente um fator chave para a compreensão da felicidade e satisfação nos relacionamentos. Ocorre que mitos e equívocos sobre a sexualidade atravessam gerações e se cristalizam como verdades absolutas, mantendo-se vivos nas mentes de homens e mulheres, de todas as idades.


O desconhecimento sobre a abrangência do real significado de sexualidade e a errônea concepção de que sexo a ela se insere como contexto de um mesmo aspecto, em relação as questões ligadas ao ato sexual puramente físico, fazem com que a abordagem deste tema esteja envolta nos mesmos mitos, tabus e preconceitos existentes, ainda hoje, em relação ao sexo, com seus desdobramentos devastadores sobre as questões de gênero.


Nas questões sexuais, comportamentos que tiveram suas origens em épocas remotas são, ainda hoje, sustentados por heranças com forte ação cultural, aceitos e tidos como verdadeiros em nossa sociedade atual. A perpetuação da visão do sexo como pecado e a valorização da virgindade, assim como os preconceitos que sustentam a discriminação e expõem as diferenças de gênero e orientação sexual ainda permanecem no imaginário de muitas pessoas.

A visão da sexualidade humana, como conceituada pela Organização Mundial da Saúde – OMS, nos permite, de forma clara e objetiva, dissociar sexualidade de atividade sexual como um ato puramente biológico, e entender os aspectos intrínsecos à personalidade do ser humano.


O conceito de energia atribuído por Langfeldt e Porter (1986) à sexualidade, coaduna com uma visão mais aberta e apreciativa dos potenciais e das motivações humanas, desenvolvidas e aprimoradas através da experiência adquirida num processo contínuo de bem-estar físico, psicológico (emocional) e sociocultural.


Sob a ótica da Terapia Sexual Positiva, a interação desses aspectos biopsicossociais passa a ser determinante no desenvolvimento saudável da sexualidade, que se manifesta em todas as fases da vida.


Ao descortinar esses conceitos torna-se possível aos profissionais da terapia sexual positiva maior entendimento sobre os fatores emocionais desencadeadores dos processos disfuncionais, o que lhes possibilitará identificar os meandros associados às inadequações sexuais e/ou disfunções sexuais.


A partir desse elementos será possível desenvolver um planejamento terapêutico eficaz através do uso mais indicado e por que não, adequado sobre as técnicas gerais e específicas disponíveis na terapia sexual. As urgentes demandas envolvidas nos processos disfuncionais poderão ser atendidas dentro do propósito terapêutico que confere à terapia sexual sua característica de breve e focal.


A terapia sexual positiva se pauta em uma atuação voltada para o pleno desenvolvimento da sexualidade, considerando a saúde física, saúde mental e saúde sexual, como forma de se obter o bem-estar pessoal e relacional.


Saúde Sexual


A OMS reconhece a sexualidade como um aspecto central do ser humano e define a saúde sexual como sendo um estado de bem-estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade, que não se restringe meramente a ausência de doença, disfunção ou enfermidade.


A saúde sexual requer uma abordagem positiva e respeitosa da sexualidade e das relações sexuais, bem como a possibilidade de ter experiências sexuais prazerosas e seguras, livres de coerção, discriminação e violência. Para que a saúde sexual seja alcançada e mantida, os direitos sexuais de todas as pessoas devem ser respeitados, protegidos e cumpridos (OMS, 2006ª).


Analisando a influência dos grupos sociais no desenvolvimento da personalidade do indivíduo e em como a construção dos “papeis sociais”, dentro dos padrões aceitáveis de normalidade, são determinantes no desenvolvimento da sexualidade, observa-se a necessidade de considerar a saúde sexual em seu contexto mais amplo, englobando todos seus aspectos biológicos, psicológicos e sociais.


Temos, então, que a quebra da harmonia dessa cadeia biopsicossocial de normalidade sexual evidencia, segundo a Associação Americana de Psiquiatria – APA, “uma perturbação clinicamente significativa na capacidade de uma pessoa responder sexualmente ou de experimentar prazer sexual” (DSM-5, 2014).


Saúde Mental e Física


A saúde mental é um componente integral e essencial da saúde. A constituição da WHO (sigla do inglês World Health Organization), declara: “A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social em que um indivíduo realiza suas próprias habilidades, pode lidar com o estresse normal da vida, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir com sua comunidade e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.


Uma implicação importante dessa definição é que a saúde mental é mais do que apenas a ausência de transtornos ou deficiências mentais.


A saúde mental é fundamental para nossa capacidade coletiva e individual, pois os humanos pensam, se emocionam, interagem entre si, ganham a vida e desfrutam a vida. Nesta base, a promoção, proteção e restauração da saúde mental pode ser considerada uma preocupação vital de indivíduos, comunidades e sociedades em todo o mundo (WHO, 2018).


Como psicólogo clínico, Martin Seligman, criador da psicologia positiva, diz que ocasionalmente faz um bom trabalho com seus clientes e pacientes, mas essas intervenções eram sobre a redução do sofrimento, não sobre o aumento da felicidade.


Trabalhava-se com a premissa de que se reduzisse depressão, ansiedade e a raiva a zero, de alguma forma você se tornaria feliz. E isso para ele não é verdade. Seligman considera que nesses casos consegue apenas uma pessoa vazia. Isso porque as habilidades de bem-estar são algo muito superior às habilidades de combater a depressão, a ansiedade e a raiva. E foi essa compreensão que o levou à Psicologia Positiva.


Em um artigo publicado em junho de 2008, Seligman sugere a criação de um novo campo: A saúde positiva. Para ele, a saúde positiva descreve um estado além da mera ausência de doença. Da mesma forma considera a saúde mental, assim compreendendo a emoção positiva, envolvimento, propósito, relacionamentos positivos e realizações positivas, um estado além da mera ausência de doença mental.


Uma mensagem para levar para casa


A terapia sexual positiva disponibiliza recursos importantes ao cultivo de emoções positivas, permite a amplificação de forças, bem como facilita o estímulo à construção de relacionamentos positivos, além de favorecer a busca por objetivos intrinsicamente motivadores, preenchendo assim a lacuna atualmente existente na abordagem terapêutica acerca dos aspectos positivos essenciais ao pleno desenvolvimento da sexualidade.


Ao considerar o ser humano um ser essencialmente social, quanto mais positivas e construtivas forem suas relações, mais positivas serão suas emoções, ideias e comportamentos. Temos então que ao se aplicar os conceitos de sexualidade humana, saúde sexual e saúde mental e física, apresentados pela OMS, assim os considerando aspectos inerentes ao ser humano, em seu contexto biopsicossocial, a Terapia Sexual Positiva estará consolidando uma abordagem terapêutica emergente amplamente baseada nos princípios da Psicologia Positiva.


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